sábado, 6 de novembro de 2010

IN NATURA (Cândida Leão)

Estes bichos querem apenas ser, dentro de uma estrutura irreal e utópica. Em suas formas livres, orgânicas e espontâneas do gesto que segue a mão e o pensamento, se constituem a partir das cores e formas. Bichos remetem ao instinto, ao impulso, ao desejo, estão em constante movimento, sempre atentos. É a própria sobrevivência que os leva ao ininterrupto deslocamento.  Aprecio a liberdade que existe em suas mentes, em seus pés, à naturalidade como vivem. As peculiaridades de cada um, suas características, o ir e vir, levam cada um a  compor o todo, a fazer parte de um sistema maior.  
Como eles, nós humanos também estamos sempre em busca de algo além do que os nossos olhos podem ver, longe do que as mãos podem tocar, alhures. Buscamos sempre os horizontes, que se diluem tão logo o alcançamos.
Desde os primórdios da existência, o homem preocupou-se em registrar tudo o que ele via e vivia. Assim, ele foi usando os suportes e as formas de impressão possíveis, como o é até os dias atuais. E ele sempre almejou e precisou perpassar os seus limites. O animal que existe dentro e fora de nós, nos torna nômades. Num moto contínuo, buscamos no exterior, um mundo perdido em algum lugar recôndito do silêncio do nosso ser.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Primeira Pessoa (Nara Oliveira)

Onde vive a obra...  A obra de arte a meu ver mora dentro de cada um. Ela faz sentido ou não faz sentido, ela vive ou morre, assusta ou acalma, alegra ou entristece, traz reflexão ou não traz nada, proporciona admiração ou asco... quando atravessa alguém,  se mistura com a mente, coisa complexa, das pessoas.

Somos obras individuais.

 Graduada em design de moda propus uma interação entre moda e arte, uma vez que ambos os mundos trabalham o ser humano em suas mais variadas questões.

O trabalho “primeira pessoa” é uma viagem íntima. Ao pensar no papel da vestimenta na construção identitária dos indivíduos, um manequim e tecidos serão expostos, ficando livres a qualquer interação dos visitantes. Integra-se também ao ambiente uma obra sonora realizada em parceria com Marcelo Padovani. Efêmera como a moda, a obra irá perdurar em cada um pelas sensações do momento.

10 regrinhas básicas para se fazer uma obra de arte (Abrão Jabur)

Gosto de trabalhar com o que está à minha frente, ou seja, ao meu alcance.  Esse trabalho, em especial, surgiu de um envelope pardo solto em meio à bagunça de meu estúdio. Intuitivamente peguei o envelope e o colei na parede, como um quadro.  Esteticamente me agradou, principalmente pela economia de recursos. Emocionalmente também me tocou (ao olhá-lo bem...houve uma pausa). É um objeto que abre muitas possibilidades de pensamento. Assim iniciou-se esse trabalho que dois meses depois, com a proposta da exposição “onde vive a obra?”, completou-se com o título: 10 regrinhas básicas para se fazer uma obra de arte.         
                                                          
Há um paradoxo entre a afirmação de que existem regras para se fazer arte e o vazio dos envelopes (Título x Objeto). Daí pode surgir diversos questionamentos, tais como: O que é arte?  A arte que se ensina hoje nas escolas e é reforçada pelos modelos também institucionalizados (museus, galerias) é realmente vanguarda ou é um modismo? Idéias artísticas realizadas para causarem impacto imediato e os hibridismos que fundem novas tecnologias às linguagens tradicionais têm conseguido abrir outras perspectivas ou outras formas de ver?  Quais os limites do artista?  Por que o público de arte anda cada vez mais distante e desinteressado?  Diante de infinitas possibilidades que podemos contemplar que vazio é esse que toma conta da gente e do mundo?

Uma coisa contamina a outra (Alexandre Rodrigues)



Um trabalho que consiste em costurar, colagens, vídeos, fotografias, desenhos, pinturas, sons, grafite e outras intervenções aos demais trabalhos do evento expositivo. Apropriando, de forma oportunista, da linguagem de cada artista participante da mostra. Empregando a intuição e o improviso. A habilidade para cumprir com agilidade múltiplas funções. Coreografando um caminho com gestos e ações plásticas, deixando resquícios, vestígios, ruídos, marcas, manchas, cortes, pistas, frases, poéticas, reflexões.

Uma coisa contamina a outra (Coletivo Experimentos Urbanos)

Em 2006, Messias Mendes e Lilian Medeiros produziram seu primeiro trabalho juntos, um ensaio fotográfico em locais públicos no qual se questionava as relações existentes entre as pessoas e o espaço, dando início a uma série de intervenções no ambiente urbano; experimentando a pintura, o graffiti, colagens, vídeo-instalações e performances. Explorando questões relativas ao excesso, à velocidade, aos espaços de trânsito, ao tempo e à informação. Esta parceria deu inicio ao Coletivo Experimentos Urbanos www.experimentosurbanos.blogspot.com.
O trabalho que será realizado nesta mostra será composto de pintura, colagem e vídeo no espaço externo da Escola Guignard com imagens e referências ao cotidiano urbano, fazendo um contraponto com a paisagem; paisagem carregada das ligações entre os espaços e tempos, do individuo e do coletivo. Esses espaços e tempos são o nosso cotidiano e é onde vive e se manifesta a obra.

De onde sou e me ensinou (Andre Ferreira)

Todos sempre nos identificamos com tudo o que conhecemos, criamos relações com o que já sabemos e nos achamos dentro da memória de nossa visão. A conquista do entendimento vem de experimentos, da experiência que sentimos, e o do reconhecimento de uma verdade própria. Isso tem um conforto conhecido em uma escuridão, inexplicável, dentro de nós mesmos, que só consegue nos sustentar. Eu me encontro aonde eu moro e tento viver nisso, em minhas obras, onde identifico, relato e acho que minhas experiências são o meu reconhecimento de uma verdade.

Janelas d'agua (Hudson Ludgero)


Um olhar em busca que percorre as arestas, criando formas que lida com espaços que transcendem a matéria, na distorção de variações, a concisão de um todo ou parte de um todo. Por meio de janelas atravessamos, com nossa percepção, outros lugares, outras dimensões, outros sentidos dentro do mesmo significado, da mesma origem!
Na busca do real, o retorno à percepção do visível tecnicamente aplicável, na mistura de tintas a óleo, o encontro de cores e nuancias, o casamento  da saturação com cores semi transparentes. Mesclando em processos de suavização, o pincel caminha para deixar invisível a visibilidade da linha, e quando está presente, a quebra de regiões se torna evidente.
A pintura é carregada do que se vê, não do que se olha, numa busca infindável da visão artística longe do olhar comum que não se prende à detalhes nem à gestalt de conceitos.
Nesta percepção de conceito e interpretações próprias, existe a ausência do que é bonito ou feio, certo ou errado, melhor ou pior, moderno ou clássico, mas sim um respeito que deve dar a algo que não se pertence.
Assim é minha pintura uma proposta de técnicas, conceitos e respeito.
A obra Janelas d'agua propõe esta visão de janela e olhar por uma nova/velha perspectiva: a busca de lugares onde a arte se encontra além da visão comum mas sim  através de superfícies de formas para realmente ver! 

Proposta integrada entre exposição e mediação

O curador de uma exposição trabalha diretamente na organização de informações e conceitos articulados num dado espaço. Pensar o espaço expositivo está diretamente ligado às funções desse espaço e às suas características intrínsecas, em conexão com as obras com as quais devem construir um diálogo ativo. Na contemporaneidade, a concepção curatorial, através de suas escolhas, procura oferecer a possibilidade de múltiplas leituras, proporcionando ao visitante uma experiência aberta que se constitui e se completa verdadeiramente na individualidade do sujeito.

O curador educativo atua na exposição potencializando a construção de sentidos e de um ambiente que evidencie os contextos presentes nesta plataforma de apresentação e fruição da arte, criando ambientes que estimulam o encontro entre o público e o contexto criado junto com o curador. Isso pode ser pensado em todo processo da exposição, deste o início, no convite aos artistas que participarão da mostra, na escolha das obras que serão apresentadas e na sua disposição, na criação de ações que proporcionem fruição e reflexão, e na formação e atualização de todos os profissionais que trabalham diretamente com o público. A criação deste ambiente difere completamente das propostas educativas escolares com o estímulo à exploração das exposições a partir de vivências de observação e construção de sentido, proporcionando uma experiência instigante porém sem um compromisso formal com o ensino ou com um aproveitamento didático.

Onde vive a obra?

A obra de arte contemporânea pode ser múltipla e complexa, mas quais são as reações que ela provoca? Em que medida nos identificamos com suas questões? Essas perguntas não são somente merecedoras de respostas como de uma reflexão contínua e provocativa para o público participante de uma exposição.

Ao questionarmos “onde vive a obra?” não poderíamos deixar de buscar respostas ou novas indagações partilhadas com o público desta exposição. Assim, criamos algumas sutis intervenções, proposições que além de gerar reflexões pudessem proporcionar ao visitante vários diálogos e formas de se relacionar com a exposição.

O olhar assim como todos os sentidos, são grandes agentes do processo de mediação, e considerando esse importante fator serão realizadas diferentes provocações. A mediação em “Onde Vive a Obra?” irá acontecer valorizando a autonomia do público. Além de frases e textos disponíveis para manipulação e re-criação, acontecerá também uma performance que irá intervir diretamente no espaço de exposição, atuando junto a todos os envolvidos: público, artistas, educadores e curadores. Pensando o conceito de fragmento que perpassa toda a lógica de formatação da exposição, a curadoria educativa adota o mesmo critério na construção de estratégias que favoreçam a aproximação do contexto da exposição e das obras com o público em geral. 

Devemos olhar para onde? Para quê?
A obra vive em você?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Livro engavetado (Ana Rocha)

Desde 2008 a artista paulista Ana Rocha investiga os significados e potencialidades da categoria livro de artista,construindo pequenas narrativas por meio de imagens e textos criados ou apropriados, que funcionam como estruturas espaço-temporais.

Os livros acolhem fragmentos (recortes) de assuntos apartados do mundo vivido que, miniaturizados, tornam-se passíveis de manipulação. Dessa maneira, os livros desempenham a função de guardiões da memória, de registros que querem ser preservados: memórias de infância, de viagens, de vivências.

São objeto de coleção, objeto de culto da própria artista. Fetichizados, é como se esses conteúdos, ali dentro, adquirissem poderes mágicos. Passam a ser motivo de veneração. De manufatura  rudimentar, esses livros são redomas de vidro.

Memoflash ASA 400 (Sérgio Badian)



O ato de olhar sempre compreende o de memorizar mesmo que involuntariamente. Uma faísca, um pequeno estímulo, ativa e revela uma imagem como em um filme sensibilizado.

A partir do momento que um observador vê uma obra ou sua imagem, ela faz parte do seu repertório. O contato não precisa ser em um museu, galeria ou coleção. Pode ser através de livros, revistas, internet ou outras reproduções. Somos compostos por tudo aquilo que nossos sentidos nos informam do mundo, nada nos escapa, mesmo neste turbilhão de imagens que nos atravessam na contemporaneidade.

Fisicamente a obra existe no mundo material, mas sua real vida está na memória, na sensação e estímulo que produz nas pessoas. É como na literatura, onde os personagens ganham vida a partir da leitura. Uma obra por sí só não existe, é preciso a intermediação do outro. E é isso que meu trabalho se propõe, buscar na memória a obra já de alguma forma vivenciada, reativá-la, revivê-la. A partir da dinâmica da caixa preta, nós nos tornamos filme que recebe a luz e revela a imagem.

Desenho sem fim (Adriana Penido)

Onde está a obra?
No artista, no espectador, na poesia, no silêncio, no “entre”, no espaço, no fragmento.
“Desenho sem fim“ é uma série de desenhos realizados no ano de 2009/ 2010, executados em seda e apresentados na forma de uma instalação. O tecido transparente é dobrado ao meio sobre fina barra de ferro branca. Esta é dependura no teto, com um fio de aço, deixando o trabalho suspenso no espaço, de forma que possa ser percorrido de ambos os lados. O desenho de um lado se completa com a sombra do desenho do outro. Nunca é possível ter a visão total do trabalho, pois como uma moeda, para ter a visão de um lado é preciso abdicar da visão do outro. A série é apresentada solta no espaço, de modo que o espectador possa caminhar entre os trabalhos, percorrê-los, estabelecendo com estes, uma relação corporal.
Essa série “Desenho sem fim” nos coloca a questão da incompletude, da impossibilidade de uma visão totalizante das coisas. Nossa visão é sempre parcial, fragmentada. Coloca-nos também a possibilidade da eterna incompletude, do vazio sem fim e também a importância das sombras, do que não está enquadrado, do silêncio, da região não iluminada que tentamos completar com nosso olhar e nossos desejos. Esse trabalho pertence ao campo ampliado do desenho. Desenho sem fim.

Passagem para Praia Branca (Marcelo Costa)



O Lugar escolhido foi o princípio ativo para a criação da obra: o elevador. O movimento vertical de um elevador pode ser compreendido como metáfora de passagem para o campo espiritual, cujo momento do purgatório está na escolha do andar (você sobe ou desce?).

O uso de fotografias antigas de pessoas desconhecidas, flores e ornamentos fúnebres dentro do espaço do elevador criam um lugar de confinamento e de solidão. A obra – que propõe o equilíbrio entre o patético e o dramático – cria no espectador uma inquietude e uma desconfiança: Haverá vida, lugar e continuidade?

Praia Branca é o desejo de um lugar de continuidade para o pós morte. A obra brinca com esse devaneio de passagem que todos os seres vivos um dia farão. Foge à compreensão, é uma experiência sustentada pelos sentidos. “um mergulho em nosso maior medo, que desafiemos nossa própria coragem e encaremos o desconhecido. É uma alegoria da morte”.

e ainda que as janelas se fechem, meu pai, é certo que amanhece”. Hilda Hilst

Escolhi o teatro como minha forma de expressão. Nele coloco minhas inquietações e desejos, e tenho aprendido muito levando este lado hiperativo para as artes. Já cedo, conquistei o registro de ator no ministério do trabalho e depois a habilitação de direção teatral no curso em Artes Cênicas (Bacharelado em direção) pela Universidade Federal de Ouro Preto. Tenho a arte como desejo materializado.
Sempre procuro nos meus trabalhos uma decisão artística muito bem pensada para que tudo seja conduzido da melhor forma. Vejo isso como uma maturidade adquirida: a força de seguir determinado rumo, assumindo as escolhas e enfrentado as dificuldades haja o que houver.
 Geralmente os jovens artistas/diretores são imprecisos, ficam presos à racionalidade, apresentam partes consistentes aliadas a outras cujos significados são banais. Busco dar ao trabalho unidade artística expressiva desde a primeira cena ou obra, buscando integrar os elementos num todo cênico instigante: atuação, música, figurino, adereços, maquiagem, espaço cênico. É um rito.
Uno a forma ao conteúdo.  De formas fortes, o equilíbrio entre o dramático e o patético sempre revela surpresas. O que mais me interessa em um trabalho artístico é conseguir plantar uma transformação no ator e no espectador, fazer com que busquem enxergar o além, a ouvir os sons atrás dos sons, a serem atores autores e espectadores atuantes.
Busco além de ser artista ser um pensante em arte e compreender também a sua história, por isso optei pela pós em Artes Plásticas na Escola Guignard. Entendo a história como um processo. Busco exercitar mais a apreciação, que é a melhor forma de educar, e deixar de apenas Ver para passar a Sentir, o que necessita de certa bagagem de estudo.
Durante toda a minha formação acadêmica busquei entender o fazer artístico na condição contemporânea. Estou imerso na interdisciplinaridade e na multidisciplinaridade das artes, ou seja, a estética da fusão. Hoje vemos muito a literatura integrada no cinema, que se integrou também na linguagem especifica das artes plásticas e das artes cênicas. Isso trouxe a consciência de que as novas tecnologias podem produzir estéticas novas. Hoje a arte é uma composição de várias vozes – o “poliglotismo” de meios e linguagens, caminhando para um único lugar: A Obra de Arte Total.  Para a nossa condição atual encaramos esse tipo de remixagem de ideias com naturalidade. O que é preocupante é a banalização do fazer e do saber artísticos; a questão do “tudo vale” é de fato preocupante. Sim, tudo vale. Mas nem tudo presta.
A arte contemporânea se compõe de materiais diversos, mas o que também me instiga é o indivíduo (artista) dentro dessa condição, o individualismo que parece ter surgido do fim da utopia dos Grandes Mitos, trazendo uma visão desencantada e desesperada sobre o futuro. Atendo a estes conceitos e a vários outros.  Acredito que podemos compreender melhor a condição do saber e do fazer artístico dentro da contemporaneidade.
“Nunca o homem escreveu uma linha, esculpiu uma pedra, pintou um quadro ou elaborou um espetáculo por outro motivo do que escapar do Inferno” Antonin Artaud.

No terceiro olhar (Martha Nascentes)


Transpondo o passado, vindo de Ilê de France. De onde surgiram os afrescos da anunciação em meados do século XlV. Atravessamos o portal do falso imaginário rumo ao século XXl. Percebemos todo o vazio de tantos séculos que se passaram.
Procure na paisagem algum cavaleiro que porventura tenha saído de algum conto em busca de futuro! Que surja de algum lugar na paisagem! Mas o que percebemos é a ausência e a distância do que não vemos.
Deparamo-nos, então, com uma paisagem do século XlX, de onde vem surgindo uma locomotiva, se adentrando num corredor de mata fechada. Desejamos que ela se aproxime, mas o que vemos no terceiro olhar é que, em meio a linhas gêmeas na mata fechada, um foguete está sendo lançado no século XX.
Posteriormente, retornará a uma paisagem plural do século XXl, provocando reflexos contemporâneos na paisagem das novas tecnologias.
"A prática de novas possibilidades de imagens como instrumento de composição, cria-se outro universo. Uma segunda realidade se constrói, pouco a pouco, enquanto se constrói uma nova relação com o processo da obra". Essa descrição de Anne Cauquelin se refere ao novo ambiente social na realidade virtual.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Memória do passeio. Passeio da memória (Marlúcia Temponi)

“O real não está na saída, nem na chegada:
ele se dispõe pra gente é no meio da travessia..."   
     Guimarães Rosa



A obra vive na memória, a partir dessa  capacidade  que nos é inerente de reter  imagens,expressões,conhecimentos e acontecimentos que fizeram parte da nossa trajetória e do nosso caminho.

Ela vive no passado junto às nossas lembranças, no aqui e no agora que  moldamos e transformamos a partir de  gestos e ações baseadas nas nossas percepções cotidianas, e no futuro incerto como um presente numa caixa de recordações.

Nesse lugar onde por vezes passeio,encontro resíduos, relíquias, marcas e mapas. Proponho o registro de um passeio ou a formação de uma cartografia num desenho que se faz ao mesmo tempo em que a matéria se transforma.

Ao espectador cabe essa autoria do registro. Suas marcas(pegadas) se inscrevem como histórias. Suas observações e explorações se definem diante da obra  e se transformam individualmente em outras marcas e histórias.

Desse passeio surge um resultado matérico: um emaranhado de linhas, sulcos, evidências e rastros. Esse emaranhado são mapas que nos remetem à questões como passado/ presente, ausência/presença. Questionamentos acerca dos caminhos que escolhemos ou nos são determinados a trilhar: que marcas trazemos dessas caminhadas? O que compartilhamos e o que guardamos?
                                                                   
O lugar que escolhi, dentro da Escola Guignard, para apresentação/realização do trabalho é a passarela de vidro que liga o 1º ao 2º andar do prédio.

Um mundo humano que aqui viva (Fayga Paim)


Onde vive a obra? Provavelmente bem mais próximo do que possamos acreditar. Talvez dentro de nós mesmos, no que existe de mais ordinário em cada um. Não diante de nossos olhos, mas atrás deles, nas nossas cavernas escuras, à beira de nossos abismos, no lugar do indizível, à espera de alguma luz.  Luz que seja capaz de deixar entrever aquilo que não pode ser visto.
Por isto eu lanço teias. Para capturar fragmentos que eu junto para tentar dar forma ao mundo. Esta é uma teia que vem sendo construída há muitos anos. Uma grande teia de sedução. Como uma grande aranha que lança seus tentáculos em busca de pequenos restos, quem sabe para tecer ou devorar. Lanço os meus tentáculos e construo minhas teias. Estou à procura de um sentido ou algo que dê um sentido a tudo isto. Quero voltar no tempo, tecer a memória, encontrar novas saídas, buscar novos caminhos, mas quero também, ter acesso a lugares, pessoas e sonhos que ficaram perdidos e que preciso reencontrar.
Neste trabalho que eu chamo, “um mundo humano que aqui viva”, frase da escritora Maria Gabriela Lansol, eu desenho redes, rendas, teias sobre vidros de janelas tentando criar um acesso entre o apreensível e o inapreensível.

Corrida de Argolinha sobre Cavalo de Pau (Marconi Marques)


No gramado da Guignard, um território será demarcado e um alvo será posto à prova - um círculo preso em uma trave de madeira deve ser atingido em seu vazio por um espeto na mão do cavaleiro. Considerei que o gramado fosse o lugar mais adequado para essa ação por ser um lugar vazio, apenas de trânsito, subutilizado; não que eu queira que ele sejae útil para alguma coisa, mas que exista a possibilidade de um deslocamento espaço-temporal. Para o momento, penso-o como um campo, um lugar para se praticar o corpo. Neste campo o participante, sujeito da ação, deve unir-se ao animal – um dos suporte do trabalho artístico, na verdade o que seria o animal é apenas um objeto lúdico que será montado, uma referência a uma brincadeira infantil, entretando cada um monta em suas próprias pernas, guiado por si mesmo.
A obra viverá a céu aberto, será efêmera. Um jogo campestre diante e distante de um belo horizonte da cidade que se modifica aos nossos olhos... durará até o momento em que o cavaleiro não exergar mais seu alvo; até o pôr-do-sol.

Sobre o conceito de arte

Arte. atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação; a capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos ( ...)

Essa é a denominação de arte encontrada no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
“Onde vive a Obra” sugere uma provocação ao público. Qual a sua percepção sobre a arte? Por quais espaços ela circula? De onde surge e a quem está direcionada a obra? Qual a melhor maneira de apresentar ou expor uma obra de arte? Existe delimitação? Existe barreira? Existe conceito? Existe a “verdadeira obra de arte”?
Nosso projeto culmina no evento expositivo – a se realizar no dia seis de novembro de 2010, na Escola Guignard –, momento em que serão apresentados os trabalhos produzidos pelos alunos da Pós Graduação Lato Sensu em Artes Plásticas e Contemporaneidade. A exposição acontecerá nos espaços de circulação da Escola Guignard, oferecendo uma movimentação despretensiosa àquele que a visita. A intenção é deixar o público à vontade para seguir o caminho de escolha para a apreciação das obras, sem direcionamento da visita, do olhar ou de sua interpretação.
A partir de hoje, publicaremos textos indicativos das obras que estarão expostas no dia do evento. Aguardamos a participação de todos, dos artistas, dos estudantes, dos demais envolvidos no projeto e de você, que nos lê, com mais questionamentos, sugestões e percepções sobre o lugar em que vive a obra de arte.
O evento e o blog – nosso espaço de discussão – estão de portas abertas a todos!

Reticente

Olhares desatentos cruzam as cidades. Acordar, tomar café, trabalhar. No caminho, o transporte público, o trânsito, o fluxo acelerado da capital. Pessoas percorrem as ruas num ritmo contínuo, passam, perpassam, trombam umas nas outras, “desculpe”, “obrigado”, e os olhos colados ao chão ou ao sinal luminoso dos semáforos. Parar, seguir, atenção. A cabeça girando em pensamentos: pagar a conta, fazer a compra, quitar a dívida. E o percurso continua. Isolado, ilhado e invisível. Seguimos, Praça Sete, um mágico, um músico, um pipoqueiro. A fachada de um edifício abandonado, um homem ainda dormindo sob sua sombra. Atravessar na faixa de pedestre, cuidado com o motoqueiro. Um, dois, três, impaciência, um, dois, três, verde, seguir. Onde guardei as chaves? Livros, cadernos, estudar, o limite do tempo vencendo. Trim, trim, o celular. Onde se encontra a arte? Acordar, seguir, pagar a conta, um, dois, três, tomar café, trânsito, estudar, quitar a dívida, um mágico, impaciência, trabalhar, cuidado, um pipoqueiro, parar, “desculpe”, Trim, trim, o celular, transporte público, “obrigado”, um músico, um, dois, três, um motoqueiro, verde, seguir, atenção, fazer a compra, acordar...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sobre a morada da arte


Sob o seu ponto de vista, onde vive a obra de arte?
Há quem tenha essa resposta formulada, pronta para ser dita. Outros pediriam tempo para responder. Outros ainda, talvez, nem acreditassem ser preciso palavras para afirmar sua proposição. Mais do que respostas, ao nos colocar diante desse “desassossego”, nos encontramos com mais e mais questionamentos:
No museu? Na instituição? Na galeria? Dentro? Fora? Na mente? No raciocínio? Na percepção? Na emoção?  Na memória? No observador? Na relação obra x instituição? Na afirmação? Na vontade? No artista? Na experiência? No atrás? No através? Nos fragmentos? No deslocamento? Na expansão? Na estratégia? Na ocupação? No questionamento? No sentido? No neurônio? Na pulsação? Na música? Na pintura? Na escultura? Na literatura? Na moda? Nos palcos? Na televisão? No rádio? Na internet? No ontem? No hoje? Nos livros? Na academia? Nas ruas? Na alma? Nos corpos? (...)
A pergunta está no ar. A partir de hoje fazemos um convite a você, leitor, que encontre uma ou mais respostas para o nosso questionamento.
Afinal, onde vive a obra?