quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Passagem para Praia Branca (Marcelo Costa)



O Lugar escolhido foi o princípio ativo para a criação da obra: o elevador. O movimento vertical de um elevador pode ser compreendido como metáfora de passagem para o campo espiritual, cujo momento do purgatório está na escolha do andar (você sobe ou desce?).

O uso de fotografias antigas de pessoas desconhecidas, flores e ornamentos fúnebres dentro do espaço do elevador criam um lugar de confinamento e de solidão. A obra – que propõe o equilíbrio entre o patético e o dramático – cria no espectador uma inquietude e uma desconfiança: Haverá vida, lugar e continuidade?

Praia Branca é o desejo de um lugar de continuidade para o pós morte. A obra brinca com esse devaneio de passagem que todos os seres vivos um dia farão. Foge à compreensão, é uma experiência sustentada pelos sentidos. “um mergulho em nosso maior medo, que desafiemos nossa própria coragem e encaremos o desconhecido. É uma alegoria da morte”.

e ainda que as janelas se fechem, meu pai, é certo que amanhece”. Hilda Hilst

Escolhi o teatro como minha forma de expressão. Nele coloco minhas inquietações e desejos, e tenho aprendido muito levando este lado hiperativo para as artes. Já cedo, conquistei o registro de ator no ministério do trabalho e depois a habilitação de direção teatral no curso em Artes Cênicas (Bacharelado em direção) pela Universidade Federal de Ouro Preto. Tenho a arte como desejo materializado.
Sempre procuro nos meus trabalhos uma decisão artística muito bem pensada para que tudo seja conduzido da melhor forma. Vejo isso como uma maturidade adquirida: a força de seguir determinado rumo, assumindo as escolhas e enfrentado as dificuldades haja o que houver.
 Geralmente os jovens artistas/diretores são imprecisos, ficam presos à racionalidade, apresentam partes consistentes aliadas a outras cujos significados são banais. Busco dar ao trabalho unidade artística expressiva desde a primeira cena ou obra, buscando integrar os elementos num todo cênico instigante: atuação, música, figurino, adereços, maquiagem, espaço cênico. É um rito.
Uno a forma ao conteúdo.  De formas fortes, o equilíbrio entre o dramático e o patético sempre revela surpresas. O que mais me interessa em um trabalho artístico é conseguir plantar uma transformação no ator e no espectador, fazer com que busquem enxergar o além, a ouvir os sons atrás dos sons, a serem atores autores e espectadores atuantes.
Busco além de ser artista ser um pensante em arte e compreender também a sua história, por isso optei pela pós em Artes Plásticas na Escola Guignard. Entendo a história como um processo. Busco exercitar mais a apreciação, que é a melhor forma de educar, e deixar de apenas Ver para passar a Sentir, o que necessita de certa bagagem de estudo.
Durante toda a minha formação acadêmica busquei entender o fazer artístico na condição contemporânea. Estou imerso na interdisciplinaridade e na multidisciplinaridade das artes, ou seja, a estética da fusão. Hoje vemos muito a literatura integrada no cinema, que se integrou também na linguagem especifica das artes plásticas e das artes cênicas. Isso trouxe a consciência de que as novas tecnologias podem produzir estéticas novas. Hoje a arte é uma composição de várias vozes – o “poliglotismo” de meios e linguagens, caminhando para um único lugar: A Obra de Arte Total.  Para a nossa condição atual encaramos esse tipo de remixagem de ideias com naturalidade. O que é preocupante é a banalização do fazer e do saber artísticos; a questão do “tudo vale” é de fato preocupante. Sim, tudo vale. Mas nem tudo presta.
A arte contemporânea se compõe de materiais diversos, mas o que também me instiga é o indivíduo (artista) dentro dessa condição, o individualismo que parece ter surgido do fim da utopia dos Grandes Mitos, trazendo uma visão desencantada e desesperada sobre o futuro. Atendo a estes conceitos e a vários outros.  Acredito que podemos compreender melhor a condição do saber e do fazer artístico dentro da contemporaneidade.
“Nunca o homem escreveu uma linha, esculpiu uma pedra, pintou um quadro ou elaborou um espetáculo por outro motivo do que escapar do Inferno” Antonin Artaud.

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